Você já teve vontade de
esquecer alguém? De verdade? Bom, além de Clementine (Kate Winslet) e Joel (Jim
Carrey em um dos seus poucos papeis que não é comédia) no “Eternal Sunshine of
the Spotless Mind” que querem apagar as memórias do relacionamento
am(dol)oroso, vários pacientes na verdade precisariam fazer algumas edições
memoriais.
Nós fazemos isso constantemente,
mas sem a ajuda de neurocientistas. Editamos nossas memórias, geralmente pra
melhor, pra ficarmos bem com nós mesmos. Odiamos ficar sem respostas pra nossas
perguntas. Odiamos assistir um filme faltando um pedaço. Então nosso cérebro
cuida de fazer alguns ajustes e então você aparece numa festa
que você na verdade nunca foi. Ou coloca o seu melhor amigo junto naquela
viagem pra Pipa, mas na verdade ele tava em Barra Grade.
Porquê então, a seleção
natural ou o seu/nosso
Deus nos deixou com essa capacidade de deleção/edição das nossas memórias? A
primeira coisa que pensamos é em proteção. No caso de uma lembrança normal de
uma festa da faculdade talvez não seja tão importante. Mas em casos traumáticos
talvez uma edição da memória, possa ser menos doloroso na hora de reativar
aquela lembrança se seu cérebro trocar alguns pontos.
Com ou sem sentido
histórico/adaptativo, neurocientistas
cogitam a possibilidade do uso da edição (in loco) da memória em casos de pacientes
com síndromes, depressão e transtorno
de estresse pós-traumático. Mas tendo a optogenética como base metodológica para a manipulação, várias aplicabilidades dessa técnica podem ser
expandidas num futuro próximo rumo ao conhecimento das causas e tratamento de tantas
outras desordens psiquiátricas – tais quais: autismo, esquizofrenia, medo, ansiedade,
vício, disturbios do sono...
Como explicado anteriormente,
identificando as regiões específicas que são afetadas nos diversos transtornos
psiquiátricos, pode-ser pensar na edição, deleção e até mesmo na substituição de
sensações atribuídas às memórias pertinentes a cada desordem. É algo bastante novo e, como toda
novidade, causa bastante receio, medo, excitação e hesitação.
Cabe a nós discutirmos
como e pra onde devemos ir – surge então uma nova disciplina: NeuroGenÉtica (neurogenethics).
Pra discutirmos as questões éticas da nova neurociência e da genômica com seus
novos Crisprs e Cas9s (ainda a ser discutida por aqui).
Provavelmente não
iremos utilizar um tratamento de edição de memórias para tratarmos nossa
história, afinal ela traduz nossa vida e faz nós sermos quem somos. De certeza, temos o fato que continuaremos por muito mais tempo precisando dos queridos e estimáveis psicólogos e que estes deverão
estar atentos aos novos procedimentos e usos da nova neurociência.
“Please don't strip my
mind
Leave something behind”
Recomendações:
1. Touriño C, Eban-Rothschild A, de Lecea
L. Optogenetics in psychiatric diseases. Curr Opin Neurobiol. 2013
Jun;23(3):430–5.
2. Canli T. Neurogenethics: An emerging discipline at the intersection of ethics, neuroscience, and genomics. Appl Transl Genomics. Elsevier B.V.; 2015;5:18–22.
3. Red Hot Chili Peppers - Strip My Mind Lyrics |
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