quinta-feira, 12 de maio de 2016

Psicólogo pra quê? Me vê uma edição de mémóra ae!

 Você já teve vontade de esquecer alguém? De verdade? Bom, além de Clementine (Kate Winslet) e Joel (Jim Carrey em um dos seus poucos papeis que não é comédia) no “Eternal Sunshine of the Spotless Mind” que querem apagar as memórias do relacionamento am(dol)oroso, vários pacientes na verdade precisariam fazer algumas edições memoriais.
Nós fazemos isso constantemente, mas sem a ajuda de neurocientistas. Editamos nossas memórias, geralmente pra melhor, pra ficarmos bem com nós mesmos. Odiamos ficar sem respostas pra nossas perguntas. Odiamos assistir um filme faltando um pedaço. Então nosso cérebro cuida de fazer alguns ajustes e então você aparece numa festa que você na verdade nunca foi. Ou coloca o seu melhor amigo junto naquela viagem pra Pipa, mas na verdade ele tava em Barra Grade.

Porquê então, a seleção natural ou o seu/nosso Deus nos deixou com essa capacidade de deleção/edição das nossas memórias? A primeira coisa que pensamos é em proteção. No caso de uma lembrança normal de uma festa da faculdade talvez não seja tão importante. Mas em casos traumáticos talvez uma edição da memória, possa ser menos doloroso na hora de reativar aquela lembrança se seu cérebro trocar alguns pontos.
Com ou sem sentido histórico/adaptativo, neurocientistas cogitam a possibilidade do uso da edição (in loco) da memória em casos de pacientes com síndromes, depressão e transtorno de estresse pós-traumático. Mas tendo a optogenética como base metodológica para a manipulação, várias aplicabilidades dessa técnica podem ser expandidas num futuro próximo rumo ao conhecimento das causas e tratamento de tantas outras desordens psiquiátricas – tais quais: autismo, esquizofrenia, medo, ansiedade, vício, disturbios do sono...

Como explicado anteriormente, identificando as regiões específicas que são afetadas nos diversos transtornos psiquiátricos, pode-ser pensar na edição, deleção e até mesmo na substituição de sensações atribuídas às memórias pertinentes a cada desordem. É algo bastante novo e, como toda novidade, causa bastante receio, medo, excitação e hesitação.
Cabe a nós discutirmos como e pra onde devemos ir – surge então uma nova disciplina: NeuroGenÉtica (neurogenethics). Pra discutirmos as questões éticas da nova neurociência e da genômica com seus novos Crisprs e Cas9s (ainda a ser discutida por aqui).
Provavelmente não iremos utilizar um tratamento de edição de memórias para tratarmos nossa história, afinal ela traduz nossa vida e faz nós sermos quem somos. De certeza, temos o fato que continuaremos por muito mais tempo precisando dos queridos e estimáveis psicólogos e que estes deverão estar atentos aos novos procedimentos e usos da nova neurociência.

“Please don't strip my mind
Leave something behind”


Recomendações:
1.         Touriño C, Eban-Rothschild A, de Lecea L. Optogenetics in psychiatric diseases. Curr Opin Neurobiol. 2013 Jun;23(3):430–5.

2.         Canli T. Neurogenethics: An emerging discipline at the intersection of ethics, neuroscience, and genomics. Appl Transl Genomics. Elsevier B.V.; 2015;5:18–22.
3.         Red Hot Chili Peppers - Strip My Mind Lyrics | 

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