Como sabemos que a proteína X é responsável
pela ligação do cofator Y com a molécula Z e que afeta o mecanismo A que pode
ser interrompido utilizando a droga D que bloqueia...ok já entendeu onde quero
chegar né? Com dois artigos bem simples
e não tão recentes vamos ver como fazemos pra entender as bases teóricas necessárias
para o entendimento dos processos e consequente produção/identificação de medicamentos,
vacinas, tratamentos e prevenções.
Primeiro tenha em mente o dogma central da biologia molecular.
DNA-->RNA-->Proteína
Quer estudar um carro, mas você não sabe como um carro funciona? Vai tirando as partes dele, de uma por uma, e verificando os defeitos que ocorrem. Correlacione cada resultado encontrado anteriormente com motos, navios, aviões e outros modelos de carros com os seus experimentos e vá construindo de pouco em pouco a sua base teórica.
Montando o quebra-cabeça, cada peça, cada proteína. |
Por onde começar?
Similaridade do DNA
Todo o genoma humano e de várias centenas de
outros organismos já estão disponíveis na web pra quem se interessar. Então, para
estudar uma proteína específica em um determinado organismo, identificar a
similaridade do gene desta proteína em um organismo já sequenciado e verificar a
similaridade (blast) desse fragmento de DNA no organismo de interesse é um bom
começo pra estudo. No artigo em questão foi verificado mais de 65% de
similaridade do gene de Trypanosoma com o gene de ratos, que por sua vez também
é similar ao gene humano.
Ploydia
Como vimos no ensino médio, temos 46
cromossomos, ou mais especificamente temos duas cópias de cada um dos 23 cromossomos.
O que quer dizer que temos ao menos, duas cópias de cada gene específico. Mas
isso só pra humanos, cada espécie tem números de cromossomos diferentes e
ploydias (duplicações, triplicações ...) diferentes. Por meio de Southern blot,
pode-se verificar que o gene estudado possui somente duas cópias. Qual a
importância disso? Bom, isso é essencial pra o próximo passo.
Deleção
Para se testar a funcionalidade de um gene/proteína, uma das formas de estudo é
deletar o gene e ver o que acontece. Verificar e analisar os processos são
afetados, e a partir de então ir montando o quebra-cabeça e estudando mais e
mais genes/proteínas
pra construir e interconectar cada mecanismos intracelular. No artigo, os
pesquisadores demonstraram que foi possível realizar a deleção de uma cópia mas
não das duas, indicando que este gene é importante para a sobrevida do microrganismo
e consequentemente essencial.
Proteína –
identificação
Utilizando anticorpo específico para a proteína
é possível, identificá-la, verificar o seu tamanho, comparar com as outras já
conhecidas, e verificar por exemplo quando a proteína é mais ou menos expressa –
quando ela é mais ou menos necessária em diferentes condições.
Proteína – Localização
Com o mesmo anticorpo, adicionado com marcações
fluorescentes, pode-se verificar a localização da proteína na célula e correlacionar
com os processos específicos a essa localidade. A proteína em estudo tem
distribuição citoplasmática e abundante. O que não ajuda muito quando se quer
especificar a função da proteína, mas sugere múltiplas funções.
Outras técnicas
Uma vez que não foi possível fazer o knock-out
das duas cópias dos genes dessa proteína, os cientistas buscaram outras alternativas
para o seu estudo. Uma delas foi o uso de proteínas-fake.
A técnica chamada de dominância negativa se
baseia na introdução do gene em questão com mutações específicas que, uma vez
dentro da célula, esse gene vai produzir a proteína equivalente com todas as
características da proteína normal, mas com um pequeno defeito na sua função. O
que quer dizer que a célula produzirá proteínas não funcionais e assim pode-se verificar
os processos afetados e então estudar o mecanismo equivalente.
Cada artigo é uma pequena peça do quebra-cabeça. Um doutorado tenta montar várias dessas peças pra identificar uma figura nesse jogo.
1. Lamb JR, Fu V, Wirtz E, Bangs JD. Functional Analysis of the Trypanosomal AAA Protein TbVCP with trans-Dominant ATP Hydrolysis Mutants. J Biol Chem. 2001;276(24):21512–20.
2. Roggy JL, Bangs JD. Molecular cloning and biochemical characterization of a VCP homolog in African trypanosomes. Mol Biochem Parasitol. 1999;98(1):1–15.
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